Patrick Modiano
Não acontece muitas vezes que já tenha lido o vencedor do prémio Nobel da Literatura. Também, os velhinhos, às vezes, escolhem cada um que valha-me Deus! Adiante. Desta vez isso não aconteceu, gostei muito dos dois livros que li “Dora Bruder” e “No Café da Juventude Perdida“. Deste gostei tanto que numa troca de comentários com o saudoso Fallorca escrevi isto em 2012:
“um livrinho maravilhoso. Chamo-lhe livrinho, porque tem cerca de 100 páginas em pequeno formato (julgo que o mesmo formato da colecção “Pequenos Prazeres”). Na realidade, é um livrão. Conseguiu colocar uma cidade enorme lá dentro, uma contenção de palavras rara hoje em dia (quando penso naqueles livros de 600 e 700 págs.), de uma depuração que admiro. Muito bom mesmo.”
E pronto. Se alguém ainda duvidar da minha opinião leva com uma Guida Rebelo Pinto nas trombas.
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Bom, é o primeiro blogger que acompanho e que já leu Modiano, além de ter gostado
Nos meus grupos de leitores apenas 2 o conhecia, ambos gostaram, mas um que já lera mais obras dele achou-o repetitivo e mostrou-se espantado.
Como o desconheço não tenho opinião.
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Carlos, a minha opinião diz apenas respeito aos dois livros que li. E o que senti foi que estava perante um verdadeiro escritor, a verdadeira Literatura. Mas aceito perfeitamente opiniões contrárias. A arte é assim mesmo.
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Deixo aqui esta nota:
Os dez livros preferidos de Patrick Modiano numa entrevista de há dois anos à Telerama:
Tristão e Isolda
William Shakespeare, Sonho de uma Noite de Verão
Abbé Prévost, Manon Lescaut
Baudelaire, As Flores do Mal
Dostoievski, Crime e Castigo
H. Balzac, Ilusões Perdidas
Charles Dickens, Grandes Esperanças
Ivan Bounine, A Vida de Arseniev
Thomas Mann, A Montanha Mágica
Malcolm Lowry, Debaixo do Vulcão
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Estou espantado por ver como Portugal mudou tanto. Nos anos 80 Duras e Yourcenar eram conhecidas por todos os leitores e lidas admirados por muitos deles. Modiano tem um culto (e grande vendagem) em França semelhante à Duras. Hoje, em Portugal, Modiano parece um escritor do Cazaquistão. Modiano? Ninguém conhece a não ser uns francófilos que ainda restam. Também é verdade que a literatura francesa mudou muito, por vezes para pior. Mas em Portugal o modelo realista em que o que conta é a história e as personagens é hoje absolutamente dominante, e nessa via os anglo-saxónicos e até os escritores de língua espanhola são os melhores. O problema é que essa tendência literária, que é representada por autores geniais (Roth, Coetzee, Llosa, etc), marginaliza involuntariamente a apreciação de outras tendências ou até géneros como a poesia. Na literatura portuguesa então, andamos todos agarrados ao realismo, mais rural ou mais urbano, isto para não falar das ficções históricas. Valter Hugo Mãe é dos poucos a insuflar uma escrita mais marcada pela poesia. Voltando a Modiano. Já li vários livros dele. Conta sempre a mesma história, não conheço autor em que isso seja tão evidente. Desse modo afasta logo uns milhões de leitores dos seus livros. Mas essa mesma obsessão temática, ligada à sua vida pessoal e à história da França do pós-guerra, é também um motivo de fascínio. No entanto, é a sua escrita e capacidade de sugestão de ambientes dúbios, nublados, é a sua preferência por personagens que mais parecem fantasmas, que poucos rastos deixam na História (não esquecer o que aconteceu durante e no pós-guerra no centro da Europa) que tornam a meu ver este autor tão apaixonante. Talvez por Portugal não ter participado nesse momento de redefinição social e identitária no pós-guerra explique, em parte, a indiferença que muitos leitores portugueses possam ter por Modiano.
Marco, desta vez, deixo-te um tratado para leres! Boa leitura.
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Foda-se, Gaspar!! grande comentário! Merece um post.
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Li o «Dora Bruder» há cerca de 14 anos. Esse livro, bem como mais uns quantos de outros autores editados pela Asa na colecção Pequenos Prazeres, foram oferecidos durante uns meses na compra da extinta revista mensal Grande Reportagem, dirigida na altura pelo Francisco José Viegas. Era um leitor assíduo da revista, e lembro-me de esperar com ansiedade o dia em que era posta à venda. Bons tempos.
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(saudades ainda maiores do Fallorca…)
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Bem lembrado, Carlos, acho que também foi assim que comprei o “Dora Bruder”, mas na altura já não era leitor da revista. Aproveitei o “dois em um”.
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Grandes conselhos literários recebi dele.
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Troquei alguma correspondência electrónica com ele nos seus últimos meses de vida; volta e meia, vou reler. Tinha lá as coisas dele, como cada um de nós tem as suas, mas era um gajo porreiro e sensível.
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Muito porreiro mesmo.
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Termino com um 🙂 — creio que ele iria gostar.
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Ele terminaria com um “às vezes lá calha… fiu, fiu” 🙂
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Certamente 😀
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(o risonho saiu com a tacha muito arreganhada para o meu gosto. Faz de conta que é um simples 🙂 , mais adequado ao sorriso que fiz com a lembrança dessa expressão tão característica do Fallorca )
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Resolvi pôr o Fallorca e o Modiano no mesmo post. 🙂 Vai lá ver.
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Done.
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🙂
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