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A despedida

Junho 2, 2015

Na barbearia o sobrevivente de Treblinka vai cortando o cabelo e relatando a vida no campo de concentração. Certo dia um tipo das SS agrupa os homens e pergunta quem é barbeiro de profissão. Uns quantos levantam o braço. Reunido o grupo de dezasseis de barbeiros é depois encaminhado para a câmara de gás. De tesoura na mão e atrás de bancos corridos, os barbeiros aguardam. Um grupo de mulheres nuas e de todas as idades entra na câmara. Algumas delas acompanhadas pelos filhos. Os barbeiros estão proibidos de abrir a boca, não podem falar, caso contrário terão morte imediata já que ao seu lado estão alguns elementos das SS. Este procedimento foi utilizado somente com as mulheres para as acalmar e tornar o processo mais ágil. É-lhes dito que, como estão sujas, vão ser desparasitadas. Cortam-lhes o cabelo e tomam um duche. Elas desconfiam, mas têm de ter algo a que se agarrar. Os barbeiros têm cerca de dois minutos para cada corte. Os grupos são muitos e os barbeiros têm de se despachar. Este trabalho dura várias horas diárias e prolonga-se por semanas e semanas. Certo dia chega um grupo de mulheres que o barbeiro conhece. São as mulheres da sua aldeia. Suas vizinhas, colegas de escola, de brincadeira, de namoros, enfim, da sua vida. O barbeiro ao seu lado conhece duas delas. A sua mulher e irmã. O relato pára aqui. O barbeiro não consegue continuar a falar. As lágrimas aparecem. Continua a cortar o cabelo ao seu cliente. Pega numa toalha e limpa a cara e as lágrimas. Por favor, não me peça para continuar o relato, diz, não consigo. Após insistência do realizador ele continua. As duas mulheres sentam-se à frente do barbeiro que era seu vizinho. Ele não pode falar. Não lhes pode dizer o que vai acontecer. Não lhes pode dizer que aquela era a última vez que estariam juntos. O máximo que consegue fazer é prolongar o corte de cabelo. Corta mais devagar, enquanto as beija e abraça. É tudo o que pode fazer para prolongar a despedida da mulher e irmã.

Para ver o relato podem clicar aqui (“Shoah”).

3 comentários leave one →
  1. Junho 2, 2015 17:16

    FODASSE!

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