Baike II
Passeio de bicla em ambiente rural. Apesar de ir com alguma velocidade travo a fundo. Vejo uma janela coberta a toda a largura por uma imagem de mar azul tropical, gaivotas e coqueiros. A casa abandonada tinha apenas aquela janela e uma porta estreita. Desmonto da bicla para tirar a foto da praxe (calma, aquilo não é o Meco, de certeza). Enquanto enquadro aparece uma velhota, põe as mãos na cinta, posiciona-se a um palmo de mim e observa-me com atenção. Pensei, pronto, vamos ter festa. Diz-me ela:
– É bonita, não é?
– Muito, respondo. Apeteceu-me acrescentar, mais kitsch do que isto não é possível. Mas não me pareceu uma boa altura para dizer palavras alemãs.
– Parece as Caraíbas, não é? – disse ela.
– Sim, sim, é isso mesmo. Aqui apeteceu-me dizer, ficaria muito bem na parede de um cabeleireiro suburbano. Mas usar ironia também não me pareceu de bom tom.
Recuei uns passos e tirei outra foto de um plano mais aberto. A velhota continuava a olhar para mim.
– Sempre que passo aqui gosto de parar e olhar para esta praia. Parece as Caraíbas… – e suspirou.
Fiquei parado em silêncio ao lado dela. Ela olhava ora para a imagem, ora para mim. Até que eu disse:
– Temos a sensação que se abrirmos a janela entramos nas Caraíbas, não é?
– É, é, nunca tinha visto assim. É isso mesmo – fez um sorriso de orelha a orelha.
Peguei na bicla e quando olhei já a velhota ia lá à frente.
– Ora então, muito bom-dia, disse quando passei por ela. Levantou o braço num movimento como quem diz “vai lá à tua vida”.
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