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Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que existe para eles

Abril 30, 2012

«A actual classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, porque ela é a crise! E não falo apenas da classe política, mas da educacional, da que controla os media, da financeira, etc. Não vão resolver a crise porque a sua mentalidade é extremamente limitada e controlada por uma única coisa: os seus interesses.

Quando uma sociedade está focada na economia, na economia, na economia e na economia, perde-se a noção do que nos dá qualidade de vida. E quando somos privados dessa noção, surge um vazio.

(…) a identidade das pessoas não depende do que elas são, mas do que têm. Quando se torna tão importante ter coisas, serves um mundo comercial, porque pensas que a tua identidade está relacionada com isso. Estamos a criar seres humanos vazios que querem consumir e ter coisas e que acabam por se vestir e falar todos da mesma forma e pensar as mesmas coisas. E a classe dominante está muito mais interessada em que as pessoas liguem a isso do que ao que importa.

Por isso querem livrar-se da cultura?
Por isso e porque ela ajuda as pessoas a entender o que realmente importa. O medo da elite comercial é que as pessoas comecem a pensar. Porque é que os regimes fascistas querem controlar o mundo da cultura ou livrar-se dele por completo? Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que existe para eles. Provavelmente mais perigoso que o filósofo. Quando usam o argumento de que a cultura não é importante e de que a economia não precisa da cultura, é mentira! Isso são as tais políticas de ressentimento, um grande instrumento precisamente porque eles nos querem estúpidos.

Temos de investir no futuro. Como? Investindo numa educação como deve ser, que garanta seres humanos bem pensantes e não apenas os interesses da economia. Investindo na qualidade dos media… O dinheiro que demos aos bancos é milhões de vezes superior ao que é preciso para as artes, a cultura, a educação…

Philip Zimbardo levou a cabo esta experiência, o Efeito Lucifer, na qual uns fingiam ser prisioneiros e outros guardas. A experiência teve de ser parada, porque os “prisioneiros” começaram a perder a sua individualidade e a portar-se como escravos e os “guardas” tornaram-se violentos e sádicos. De repente percebemos: “Uau, é isto a natureza humana, é disto que somos capazes.” Lição aprendida: há que controlar o poder, venha ele de onde vier.»

Ler a estrevista completa a Rob Rieman – O filósofo holandês esteve em Lisboa à conversa com o i sobre o espírito de resistência e o “eterno retorno do fascismo”

2 comentários leave one →
  1. Abril 30, 2012 18:20

    Isto é tudo o que ando sempre a dizer… a prova de que a cultura é uma arma perigosa é que todas as ditaduras começam por asfixiar a cultura para depois a modelar a seu gosto, limitando de caminho o livre-pensamento, a iniciativa individual e a criatividade (a criatividade é o maior poder à face da Terra, ela pode tudo).
    Estas coisas acontecem de mansinho, há que estar atento aos sinais.

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    • Abril 30, 2012 19:50

      Anita, lá dizia o outro “quando ouço falar em cultura, saco logo da pistola”. Mas estes mesquinhos maquiavélicos evoluíram e aperfeiçoaram os seus métodos de adormecimento colectivo.
      Aquela frase do Maio de 68 mantém-se actual: “a imaginação ao poder”.

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