Um milhão
Há dias ouvi na rádio uns minutos de uma entrevista a Jaime Nogueira Pinto. Não ouvi o início, mas pelo que percebi estava lá na qualidade de “empresário” com relações privilegiadas em Angola. A dada altura da entrevista ele diz qualquer coisa como isto: aos proprietários de um jornal, rádio ou televisão não lhes interessa ter um orgão de comunicação descredibilizado. Se as pessoas souberem que há interferência directa nas opções editoriais, esse jornal ou canal não lhes serve para nada.
Isto faz sentido, claro. Mas dá para perceber quão refinado é este raciocínio, não?
Quem acompanha os resultados eleitorais com alguma atenção sabe que, mais coisa menos coisa, quem decide o vencedor é um número redondo. Um milhão de votantes.
Este milhão flutua, ora para um lado, ora para outro. Mas sempre no miolo. Vai trocando a cor da tinta ao sabor da moda: colecção Outono/Inverno ou Primavera/Verão.
Este número redondo que não é um vocábulo é conhecido de ginjeira no Rato e na Lapa desde os mini-jotas.
Ironia toponímica: Rato e Lapa?! A sério? (nota mental: evitar piadolas fáceis. Só uma pergunta inocente. Os moradores da Lapa são os laparotos?) Já me estou a desviar do milhão. Avante.
Como dá para perceber este milhão é facilmente instrumentalizado. Ou em linguagem corrente, manipulado.
Na TVI, temos a homilia dominical do prof. Bambo. Na SIC, o roberto Mendes a fazer de caixa de ressonância e, na RTP, o Mogais Sagmento de garrafa de lexívia na mão a lavar as mentes das ovelhinhas. Ou seja, nos três canais em sinal aberto temos três representantes de tr… espera, de UM partido. As lapas, cá está.
Para calar as ovelhinhas, foram a Paris. Estão a ver, até temos um representante do outro partido e tudo. Mééé…
Circula pela internet um texto atribuído a Noam Chomsky, mas que ele já negou a sua autoria (sim, estes jogos são sempre muito complexos. Informação, contra-informação, enfim, confusão). No entanto, vale a pena ler e reflectir. Por exemplo, repare-se no n.º 9. Não faz lembrar aquela mentira do “os portugueses viveram acima das suas possibilidades”? Ah, pois é, bebé.
Espero que nenhum leitor deste post faça parte do tal milhão. Seria como descobrir ao fim de uma vida que afinal é filho adoptado. O quê? Fui enganado, manipulado, este tempo todo?! Foste, filho, lamento dizê-lo, mas foste.