“Cinco covas no Egipto”
“Five Graves to Cairo” (1943), Real. Billy Wilder
Um filme produzido em 1943, nos Estados Unidos, realizado por um judeu fugido ao nazismo e interpretado por um austríaco (Erick von Stroheim/Rommel), conhecido pelos seus traços ditatoriais, só poderia resultar num filme de propaganda. Contra a Alemanha, marchar, marchar. Contudo, se é que se pode dizer isto, é um bom filme de propaganda. Os personagens alemães sempre frios e distantes, o general italiano, e cantor de ópera, permanentemente humilhado pelo marechal-de-campo Rommel (convém não esquecer que, em 1943, Itália e Alemanha ainda eram aliadas, o que não impedirá Sebastiano, o tal italiano, de dizer: “Quem dorme com cães, acorda com pulgas” ou “[os alemães] deixam-nos morrer, mas não nos deixam tomar banho“), a empregada francesa numa atitude de resistência, guardando ainda muito ressentimento relativamente aos ingleses (a memória da retirada em Dunquerque estava ainda bem fresca, o que levará a que o soldado inglês lhe pergunte: “Quem lhe contou essa versão? Laval?“) e, finalmente, os ingleses/aliados no papel de libertadores e vencedores.
Repara-se no discurso atribuído ao personagem de Rommel: “Enquanto os ingleses e os franceses andavam a passear as suas mulheres, nós estávamos a preparar a guerra que aí vinha”. Se não deixa de ser um elogio à grande capacidade de organização alemã, também coloca em causa a sua ineptidão para a improvisação (um elemento sempre presente nos conflitos militares), aí já não conseguem ser eficientes, não foram talhados para tal, como o próprio filme procura demonstrar. Isto é, são fortes por antecipação, mas caso falhe algo no seu plano, o exército alemão começa abrir o flanco.
Nota: Qualquer semelhança com a actualidade será pura coincidência.