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A literatura e o cinema

Abril 27, 2013

A Carta, Manoel de Oliveira

Por Manoel de Oliveira

Aceitemos que o romance seja como memória ficcionada da vida, e o cinema a presença ficcional, seja da vida, seja do romance ou da história.
A transposição dum romance para um filme implica conceitos de vária ordem e não é cousa simplista, como possa parecer à primeira vista e como talvez alguns possam pensar.
A primeira cousa que assalta o pensamento é a ideia de fidelidade à origem da estória. Até aqui tudo bem. Mas não é esse o verdadeiro problema. Se este está na essência da questão acresce-lhe outro igualmente importante e que se torna o ponto fulcral – a forma.
Este simples facto de uma nova forma, e o cinema sendo uma síntese de todas as artes, não quer dizer que as copie a todas, o que seria imensamente redutível, como aliás me verberava ao ouvido outro dia João Bénard da Costa. Recria-as a todas, e a todas elas dá uma nova forma, uma nova perspectiva, um novo encaixe, um outro olhar, enfim um renovar na invenção, de transposição em transposição e de filme para filme. Mesmo quando há títulos (legendas) intercalados entre cenas e planos, eles integram-se na construção do filme, abreviando o significado, criando ritmo e acentuando a expressão, como aliás acontecia no tempo do cinema mudo, onde a palavra falada do diálogo era então substituída pela palavra escrita, digamos, visual, ou quando os usavam para abreviarem a acção em acontecimentos de menor relevância.

[continuar a ler aqui, Num filme de Godard]

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