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Uma geração entre duas épocas

Julho 5, 2012

«Foi uma frase de Haller que me deu a chave deste raciocínio. Disse-me uma vez, falávamos nós das pseudo-atrocidades da Idade Média: “Estas atrocidades afinal não são atrocidades nenhumas. Um homem da Idade Média havia de abominar todo o estilo da nossa vida de hoje, havia de achá-lo pior que cruel: terrível e bárbaro! Cada época, cada cultura, cada costume e tradição tem o seu estilo, as suas suavidades e durezas, atrocidades e belezas que lhe assentam, aceita como naturais determinados sofrimentos, suporta pacientemente determinados males. O verdadeiro sofrimento, o autêntico inferno, esse só advém na vida humana onde e quando duas épocas, duas culturas e duas religiões se intersectam. Um homem da Antiguidade que tivesse tido de viver na Idade Média, teria asfixiado miseravelmente, como também asfixiaria um selvagem transportado à nossa civilização. Agora, há épocas em que toda uma geração se encontra a tal ponto enfaixada entre duas épocas, entre dois estilos de vida, que perde toda a naturalidade, toda a moral, toda a segurança e inocência. É claro que nem todos sentem isto com a mesma intensidade.» (pp. 27-28)

O Lobo das Estepes [Der Steppenwolf]Hermann Hesse (Tradução de Sara Seruya, Ed. Difel)

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