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A tringalha

Junho 19, 2013

harles-Dominique-Joseph Eisen

«Se a paisagem do largo era o grande espectáculo, a da viela fascinou-me desde o começo pelo imenso burburinho de vida, as zangas, a sujidade, o fedor, os estalos, as gargalhadas.
Havia nela um bordel e as putas saíam de lá aos gritos e às ameaças quando um freguês, fingindo ser visita, entrava na casa de uma vizinha que o dava mais barato ou, por gosto, até de graça. E assim, ainda inocente, me habituei a julgar normal que quando alguma coisa lhes desprazia as mulheres levantassem a saia até à barriga. Se bem que com a descoberta me apercebesse também inquieto que, ao contrário da minha suposição, a tringalha não era comum.
Palavra para “aquilo” era-me desconhecida, porque embora o avô se esforçasse por aumentar o meu vocabulário, e logo a seguir ao retorno da aldeia tivesse começado a ensinar-me a ler e a escrever, o seu método além de inortodoxo era estranhamente selectivo.» (p. 142)

Ernestina,  J. Rentes de Carvalho (Ed. Quetzal)

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