“O Deus das Moscas”
«O rapaz de cabelo alourado desceu os últimos palmos de rocha e encaminhou-se para a lagoa. Apesar de ter tirado a camisola da escola, que agora lhe pendia de uma mão, a camisa cinzenta colava-se-lhe à pele e sentia o cabelo pegajoso na testa. Em torno dele, a vasta cicatriz rasgada na selva ressumava calor. Avançava com esforço entre as trepadeiras e troncos quebrados quando uma ave, uma visão de tons vermelhos e amarelos, disparou para o céu com um clamor bruxuleante, logo depois ecoado por outro grito.
– Ei! – ouviu-se. – Espera aí!
O matagal numa das margens da cicatriz foi sacudido e uma saraivada de gotas de chuva percutiu as imediações.
– Espera um bocadinho – disse a voz. – Estou preso.»
O Deus das Moscas, William Golding (Trad. Manuel Marques, Ed. D. Quixote)