Inventar a roda
Conversa entre um missionário e um samoano, segundo uma história que o antropólogo Marshall Sahlins costumava contar nas aulas.
MISSIONÁRIO: Olha para ti! Estás a desperdiçar a tua vida, aí deitado na areia o dia todo.
SAMOANO: Porquê? O que é que acha que eu devia fazer?
MISSIONÁRIO: Bem, há por aqui muitos cocos. Porque não secar algum miolo e vendê-lo?
SAMOANO: E porque é que eu havia de querer fazer isso?
MISSIONÁRIO: Podias ganhar muito dinheiro. E com o dinheiro que ganhasses, compravas um desidratador, secavas o coco mais depressa e ganhavas ainda mais dinheiro.
SAMOANO: Está bem. E porque é que eu havia de querer fazer isso?
MISSIONÁRIO: Ora, ficavas rico. Podias comprar terra, plantar mais coqueiros e expandir as operações. Com isso já nem tinhas de fazer tu o trabalho, podias contratar uma data de gente para o fazer por ti.
SAMOANO: Percebo. Mas porque é que eu havia de querer fazer isso?
MISSIONÁRIO: Bem, no fim, com esse miolo de coco todo, terra, máquinas, empregados e a fortuna que ganhasses, aposentavas-te como homem muito abastado. E depois já não tinhas de fazer nada, podias ficar estendido na praia o dia todo.
(Citado em David Graeber, DEBT: THE FIRST 5,000 YEARS, Melville House, 3.ª ed., 2014, pp. 399-400)
[via Manuel Santos Marques no facebook]