Robespierre, Danton e Marat
«O primeiro destes três homens era pálido, novo, grave, com os lábios delgados e o olhar frio. Tinha na face um tique nervoso que lhe tornava difícil o sorrir-se. Estava polvilhado, enluvado, asseado e correcto. O seu casaco azul-claro não tinha nenhuma ruga. Tinha umas calças de nanquim, meias brancas, uma gravata alta, folhos de renda, e sapatos com fivelas de prata. os dois homens restantes eram, um, uma espécie de gigante, outro, uma espécie de anão. O alto, envolvido num vasto casaco de pano escarlate, tendo ao pescoço uma gravata desatada que lhe caía mais abaixo do que os folhos, o colete aberto e com os botões arrancados, trazia umas botas de canhão e tinha os cabelos todos eriçados, conquanto tivesse um arremedo de penteado. Alguma coisa havia de juba na sua cabeleira. Tinha marcas de bexigas no rosto, uma ruga de cólera entre as sobrancelhas, uma outra de bondade ao canto da boca, lábios espessos, dentes grandes, um punho de carrejão, olhar brilhante. O baixo era um homem amarelo que, sentado, parecia disforme; tinha a cabeça lançada para trás, os olhos injectados de sangue, placas lívidas no rosto, um lenço apertado sobre os cabelos luzidios e chatos, ausência de fronte, uma boca enorme e terrível. Trazia uns calções com as meias pegadas, largos sapatos, um colete que parecia ter sido de cetim branco, e por cima deste colete um casaco as pregas do qual uma linha dura e recta deixava adivinhar um punhal.
O primeiro destes homens chamava-se Robespierre, o segundo Danton, e o terceiro Marat.»
Noventa e Três, Victor Hugo (Trad. Maximiano Lemos Júnior, Ed. Portugália, pp. 113/114)