É munta gente

Qualquer presidente de junta quer fazer da sua freguesia o centro do mundo. Pensa que no largo da igreja com o seu café central na esquina, onde se bebe cerveja cristal pelo gargalo, cabe o mundo inteiro. É lá que se fazem as festas e romarias, onde vai o cantor mais popular do país, e quiçá do mundo, actuar nas festas organizadas em conjunto com o padre Inácio. No mesmo sítio lança-se foguetes e assa-se um porco em lume brando. Os artesãos da aldeia são convidados a mostrar aos forasteiros as suas habilidades no manuseio das peles, das madeiras, do vime, do barro, dos têxteis. Nesta aldeia há-de tudo, boa comida, bom vinho, moçoilas casadoiras e até uma pensão, no largo central, claro, que aluga quatro quartos a um preço bem jeitoso. Tem um banheiro muito moderno onde se pode lavar os sovacos numa pia de cerâmica que o Ti Chico ofereceu ao Zé Trinchas neto do fundador da pensão onde durante muito anos foi também a sede dos bombeiros e do clube da bisca lambida. O largo desta aldeia é um mundo com muitas histórias do mundo, por aqui passaram grandes figuras nacionais e até houve um presidente que aqui pernoitou quando o carro da campanha eleitoral, a caminho de Fajões de Baixo, furou um pneu. Está ali a placa naquela esquina do largo central a assinalar esse momento único na história da freguesia. O presidente da junta jura a pés juntos que uma vez, neste largo, estiveram quarenta mil pessoas nas festas da Nossa Senhora da Aparição. Veio nos jornais e tudo.