Os reis-mandados
Este conto é absolutamente maravilhoso. Um excerto:
«Tão pesado se sentia, tão consolado também, que se descalçou. O mar chamava-o com a sua frescura, sua doce solidão, e o pequeno caminhante não soube resistir. Correu para ele, de braços abertos, levando pelo ar a lancheira e as botas: “Ala-ala-ala!” Gritava e saltava atravessando a areia a escaldar e só parou quando a espuma das ondas lhe veio beijar os pés, muito maneirinha. Então tal foi o alívio que se sentiu leve, leve, e muito longe do mundo das casas e das pessoas. Era todo luz e água a rebrilhar; dali em diante havia de lhe custar a esquecer aquele mar e principalmente o modo leal como o tinha recebido. Se eu tivesse um barquinho vivia aqui toda a minha vida, pensou.» (p. 19)
O burro-em-pé, José Cardoso Pires (Ed. Dom Quixote)
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