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Estudo de mercado

Maio 15, 2015

Há uns anos, no centro do Porto, fui abordado por uma rapariga fisicamente simpática (calma, não é o que estão a pensar) que se colocou impetuosamente à minha frente barrando-me a passagem. Reparei que tinha um crachat no peito (calma, foi um acto espontâneo), mas não consegui ler o que lá estava escrito. Percebi que era um daqueles peditórios de rua ou algo assim e disse, “agora não posso, estou com pressa”. Ao que ela me respondeu, “não é o que está a pensar (estão a ver? eu tinha razão), estamos a fazer um estudo de mercado sobre cerveja”. Alto e pára o baile. De cerveja?! Estava um dia de muito calor, daqueles de início de Verão e saiu-me logo de supetão, “Veio falar com a pessoa certa, no momento exacto, no sítio indicado”. Ela fez um sorriso e lá fui eu atrás dela. Entramos numa sala de aspecto asséptico, despersonalizada, daquelas em que se percebe rapidamente que foram alugadas por uns dias apenas. Na sala estavam mais duas ou três pessoas a estudar a fermentação dos cereais. Aqui está uma excelente sala de estudo, pensei. Estou com vontade de estudar muito. A tal rapariga sentou-se à minha frente com dois copos de cerveja e pediu-me para indicar de qual gostava mais. Quando vi que a quantidade era mínima tive que dizer que não conseguia avaliar apenas com aquelas gotas. No mínimo os copos deviam estar cheios. Só assim o estudo de mercado seria fiável, já que ninguém bebe apenas umas gotas de cerveja. A rapariga riu-se, levantou-se para encher os copos, não sem antes dizer, “foi a primeira pessoa que exigiu isso, mas pronto”. Ó minha menina, um especialista é um especialista, estamos aqui a brincar ou quê? Lá vieram os copos. Agora sim, já posso fazer o meu estudo cerealífero. Quando pego no copo reparo que ela se debruçou sobre a mesa mostrando um belo decote. Bem, com um panorama daqueles à minha frente e a beber duas cervejas quase de golada que a sede era muita, percebi que o estudo de mercado tinha ficado para segundo plano. Devo ter falado muito, porque a dada altura ela pergunta-me, “Você é estrangeiro ou esteve no estrangeiro?”. Que raio de pergunta mais estranha. “O que a leva a perguntar isso?” Responde ela, “Não sei, tem uma forma estranha de falar, mas não consigo perceber de que país.” Olha-m’esta! “Então, aponte aí no seu estudo de mercado: a nossa cerveja é tão boa que os nossos clientes até ficam a falar estrangeiro“. A cachopa deu uma valente gargalhada. Para concluir resta-me dizer que errei em todas as cervejas que provei. Pudera, com um decote daqueles à minha frente, lá conseguia eu pensar em cerveja! Ainda por cima a temperatura na sala não parava de aumentar.

2 comentários leave one →
  1. Maio 15, 2015 20:58

    O charme é meio caminho andado para o sucesso, mas por vezes tráz sofrimento… 😨

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    • Maio 15, 2015 22:39

      Deu para matar a sede à borla. Já não foi mau 🙂

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