Camones ortográficos
Vou contar uma história curtinha. Um dos meus amigos de infância, lá na rua, era sempre o primeiro a aderir às modas. Novo corte de cabelo? No dia seguinte já estava. Nova tendência nas calças? No dia seguinte já andava. Novas expressões de rua? No dia seguinte já as usava como se fossem a sua pele. E se nós, na semana seguinte, usássemos essas expressões “modernas” gozava connosco. Pá, já não se usa essa expressão há séculos. O que mais me impressionava era a rapidez com que ele entranhava as novas palavras e expressões. Nunca mais conheci ninguém assim.
Quando vejo a rapidez com que algumas pessoas aderiram, por vontade própria, ao açordo autofágico lembro-me desta personagem da minha rua. Também me lembro do Molero de Dinis Machado, mas isso são outros quinhentos. Quer dizer, pensando bem até nem são. Os novos aderentes (sim, esta é a palavra certa) do açordo bem que podiam fazer parte do livro do Molero. São os camones ortográficos (e agora lembrei-me outra vez da cena de pancadaria). Para terminar, já que eu disse que era curtinha, e não tendo nada que ver com o que disse atrás, essa personagem da minha rua, por razões que não vêm ao caso, foi preso e agora anda de anilha na perna. Mas aposto que continua a usar as expressões da moda e aposto o meu pescoço como aderiu ao açordo. Vai uma aposta?