“O Futuro”
«Quando finalmente lá chegar,
e vai demorar muitos dias e noites –
gostaria de acreditar que outros vão estar à espera
e podem até querer saber como foi.
Falarei então sobre um céu especial
ou uma mulher num roupão branco
ou da altura em que visitei um estreito
onde uma famosa batalha naval ocorrera.
Abrirei então sobre uma mesa
um grande mapa do meu mundo
e explicarei às pessoas do futuro,
nas suas vestes claras, como era antigamente –
como as montanhas subiam entre vales
e a isto chamava geografia,
como os barcos com grande cargas sulcavam os rios
e isto era conhecido por comércio,
como as pessoas desta área cor-de-rosa
atravessavam esta área verde-clara
e provocavam incêndios e matavam tudo o que encontravam
e a isto se chamava história –
e eles irão escutar, com olhos benignos e em silêncio,
enquanto outros vão chegando para se juntar ao círculo
como ondas formando-se concentricamente e não em direcção
à margem, uma pedra atirada a uma lagoa.»
Amor Universal, Billy Collins (Trad. Ricardo Marques, Ed. Averno, pp. 150-151)
O quadro é lindo e o poema maravilhoso. É por estas e por outras que corra como correr o dia é sempre aqui que o venho terminar 🙂
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Obrigado pelas palavras, Inês, é iglantónico agradar assim 😉
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Desculpem a deriva 🙂
“Chegou uma esquadra, e aqueles a quem chamavam os camones invadiram a cidade tingindo-a com a brancura das suas fardas (…) Os camones pararam junto do Ângelo, que estava sentado no seu banco de madeira a experimentar a harmónica, um deles aproximou-se e disse girls, e fez com o braço o movimento respectivo, we want girls, o Ângelo disse girl é a tua mãezinha, estás a perceber ou precisas de explicador?, sim, a tua mãezinha, o camone riu-se para os outros, um deles avançou e fez uma espécie de passe à Fred Astaire, e de repente o Ângelo já tinha guardado os óculos e a harmónica no bolso, começou a despachar os camones, enfiou um pela loja de móveis do Ventura, outro foi cair numa das cadeiras da Barbearia Hollywood, os camones iam e vinham, o Ângelo tinha-os juntados todos num molhinho, e vai disto, tudo pelo ar, rumo ao Marocas Papa-Milhas, que tinha um motocicleta cheia de cromados e a mania das curvas rápidas, ia a fazer uma bela curva naquele momento, despistou-se, disse foda-se, foda-se, não mexam na mota, subiu o passeio (…), virou de pantanas o mostruário do Raul Pechisbeque, choveram colares de vidros, pulseiras, broches e anéis, o Marocas continuou em prova (…), depois de passar pela banca de peixe do Zeca Trampa, espadanando carapaus e lulas por todos os lados (…), as pessoas assomavam às janelas, as mulheres gritavam, o bebé da Gertrudes, que era o melhor pulmão lá do bairro, berrava como nunca (…), o Zuca diria mais tarde que, tirando algumas partes cómicas que pareciam à Charlot, aquilo tinha sido uma coisa iglantónica…
Dinis Machado
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Adelino, esse é “apenas” um dos meus livros da vida!!! Tem a melhor cena de porrada alguma vez escrita. Essa é uma parte de uma longa pancadaria 🙂
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