Mobilete
Chamem-me Zé Manel. Um dia, estava eu a ficar com a cabeça toda esgrouviada que até tinha vontade de espetar uns valentes cachaços a cada morcão que via na rua. Nestas alturas, quando estou com vontade de partir esta merda toda, tenho de me fazer ao mar. Meti-me na minha caíca e lá fui eu à tainha. Estava eu a pescar tainhas quando o capitão começa a ficar inquieto. Ia da popa à proa e voltava para trás. Fez isto montes de vezes. Até que eu lhe disse, capitão, pá, pára lá com essa merda que me estás a dar enjoos. Ele lá se acalmou um bocado. Passados uns minutos começou outra vez a fazer a mesma coisa, mas reparei que estava mais nervoso do que era costume. De repente, estacou, havias de ver, man, parecia uma estátua. Ficou assim montes de tempo até que começou a ladrar. Então, tive que gritar, capitão, pára lá de ladrar que me estás a assustar as tainhas, caralho. Mas o raio do cão não me ligou nenhuma. Estive quase para o lançar borda fora se não se calasse.
Só mais tarde me apercebi que o capitão ladrava para a minha mobilete que estava no fundo do mar mesmo a seguir à ponta do cais norte. Eia, até estava esquecido dessa noite. Estava com uma puta duma nassa tamanha que entrei no cais a velocidade de foguete e só parei quando me espetei de cabeça na água. A minha sorte foi que naquele momento passou a lancha do Tone Zé e lá me pescou por acaso. Como era de noite o Tone Zé nem viu que tinha acabado de pescar o Zè Manel. Ainda hoje o agradeço por isso.
[como é dia mundial do livro lembrei-me de um que tem um início magnífico]
😀
GostarGostar
Como diria o Fallorca, às vezes lá calha.
GostarGostar
Eh, eh, excelente.
GostarGostar
Obrigado 🙂
GostarGostar
… e lá calhou. O texto e o Tone Zé pescar a mobilete 🙂
GostarGostar
O curioso é que desencantei isto no lixo que é para onde vai quase tudo o que escrevo. Mas como andava à procura de um post que tinha guardado, lembrei-me de procurar no “lixo”, reli e desta vez gostei. Então, pensei: olha, hoje é dia do livro até calha bem.
GostarGostar