Mãe Santíssima!
«E a cada pergunta um safanão a que, chocado e sem força que igualasse a sua, eu não via maneira de escapar.
Finalmente consegui dizer que realmente não imaginava quem o senhor fosse, mas se me quisessem elucidar…
Bufando, deitando-me de soslaio olhadelas raivosas, a um gesto do homem Boris voltou a sentar-se, ao mesmo tempo que aquele me estendia o seu cartão de visita.
Nesse instante o mundo explodiu. Tenho a viva sensação de como os joelhos se me puseram a tremelicar, da oura que me tomou, da incrível espessura da língua que de repente me enchera a boca e me impedia de dizer o que quer que fosse. Os suores frios. O involuntário esgazear dos olhos. Os tiques da face. Otto Skorzeny! Eu tinha ali à minha beira um homem procurado, temia eu, por não sei quantos governos, o colaborador próximo de Hitler e lendário SS-Obersturmbannführer, o ás da aviação que em 1945 ganhara fama mundial por pousar no Gran Sasso com um avião minúsculo, e de lá conseguir raptar Mussolini. O mesmo que depois, quase ao terminar a guerra, durante a ofensiva das Ardenas, tinha comandado um grupo de sabotadores que, vestidos de uniformes ingleses e americanos, tinham operado atrás das linhas aliadas, infligindo enormes perdas.
Mãe Santíssima! Um criminoso de guerra que, a crer no cartão de visita, se refugiara em Espanha! E nada me garantia que a qualquer momento a Polícia não irrompesse por ali dentro, a considerar-me cúmplice sabe Deus de que conspirações.» (pp. 83-84)
La Coca, J. Rentes de Carvalho (Ed. Quetzal)
Cuidado, certo?, que é assim que nascem as religiões 🙂
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… que são o ópio do povo 🙂
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