“O paraíso na outra esquina”
«Abriu os olhos às quatro da madrugada e pensou. “Hoje começas a mudar o mundo, Florita.” Não a surpreendia a perspectiva de pôr em andamento a maquinaria que ao fim de alguns anos transformaria a humanidade, desaparecendo a injustiça. Sentia-se tranquila, com forças para enfrentar os obstáculos que lhe sairiam ao caminho. Como naquela tarde em Saint-Germain, dez anos atrás, na primeira reunião dos sansimonianos a que assistira, quando, ao ouvir Prosper Enfantin a descrever o casal-messias que redimiria o mundo, prometera a si mesma, com força: “a mulher-messias serás tu.” Pobres sansimonianos, com as suas hierarquias enlouquecidas, o seu fanático amor à ciência e a sua ideia de que bastava pôr os industriais no governo e administrar a sociedade como uma empresa para alcançar o progresso! Tinha-los deixado muito para trás Andaluza.
Levantou-se, lavou-se e vestiu-se, sem pressa.»
(…)
O paraíso na outra esquina, [El paraíso en la otra esquina], Mario Vargas Llosa (Tradução de J. Teixeira de Aguilar, Ed. Dom Quixote)[Uma escolha de Sandra Costa]