“Esteiros”
«Fecharam os telhais. Com o prenúncio de Outono, as primeiras chuvas encheram de frémitos o lodaçal negro dos esteiros, e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garotos, num arrepio de águas e de corpos. Também sobre os fornos e engenhos perpassou lufada desoladora, que não deixava o fumo erguer-se para o alto. Que indústria como aquela queria vento, é certo; mas o sol também. Vento para enxugar e sol para calcinar – sentenciavam os mestres. Mas o sol andava baixo: não calcinava o tijolo, nem as carnes juvenis da malta.
Menos por isso que pela fraqueza das vendas, os patrões não quiseram arriscar mais dinheiro nas fornadas. – Ano mau… Todos os anos se dizia o mesmo. Desde que apareceu a telha francesa, e o bloco de cimento levou tudo de mal a pior.
– Indústria pobre, Sr. Castro – chorava-se Zé Vicente ao pagar a renda do terreno. -Indústria pobre… – E era. Desde garotos maltrapilhos aos valadores que vinham de muito longe – sete horas de comboio, a sonhar jornas impossíveis. Por isso, agora, o dia 7 de Setembro passava despercebido, sem festa.«
(…)
Esteiros, Soeiro Pereira Gomes (Ed. Europa-América)[Uma escolha de Sandra Costa]