“As doze cadeiras”
“Eram tantas as barbearias e as agências funerárias espalhadas pela capital de distrito N., que os seus citadinos pareciam nascer apenas para fazerem a barba, cortarem o cabelo, borrifarem a cabeça de água perfumada e morrerem logo de seguida. Na realidade, as gentes da capital distrital muito raramente nasciam, se barbeavam e morriam. A vida, em N., era pacatíssima e as noites primaveris deliciosas, a lama brilhava como antracite sob a lua e toda a mocidade local andava tão apaixonada pela secretária do Sindicato dos Serviços Comunais que a situação começava a estorvar seriamente a cobrança das quotas.
Os problemas da vida e da morte nada preocupavam Ippolit Matvéevitch Vorobiáninov, embora eles fossem da sua competência todos os dias úteis, das nove da manhã às cinco da tarde, exceptuando a meia hora do almoço.
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As doze cadeiras, Iliá Ilf e Evguéni Petrov (Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Ed. Campo das Letras)